sexta-feira, 11 de março de 2011

O ENGENHEIRO E O ADVOGADO

Emoldurados na haste cartesiana, a lógica engenheirística apanha todas as artimanhas sofistas dos bacharéis. Sua figura é controvertida para nós, os engenheiros. Os seus métodos de persuasão e leques argumentativos não escapam ao nosso horizonte - inclusive sua dissimulação.

Na entrada do escritório da minha advogada existe um passarinho. Dentro dele, um sensor de movimento atua um assobio ingênuo toda vez que alguém passa pela porta. É como se fôssemos arrebatados para o bosque encantado no meio da selva burocrática. Os clientes não se dão conta de que a obra de arte é apenas um dispositivo para informar que alguma pessoa se aproxima e indicar o tempo necessário para que a grana seja escondida no bunker (todo escritório de advocacia tem um bunker). Não tem nada a ver com arte! O bom cidadão não percebe isso.

Para piorar, a única literatura disponível no portarevistas é a Revista Caras, como se o único interesse que temos na vida fosse BBB e a novela das oito. A lógica é simples: o repertório de vestidos e gostosas visa evitar que o interesse por tributação seja disseminado nas mentes vazias de mulheres e homens.

Quando entro na sala sou avisado sobre o ajuste elevado do aluguel. Ela justifica a alíquota com a mensalidade alta da faculdade de sua filha e com a ausência de mensalidade da minha. Como se fosse uma compensação pelo benefício de estudar sem pagar. Ela se esquece dos meus impostos, penso. E penso mais. Penso sobre inflação, política fiscal, justiça social, câmbio e taxa de juro.

Como bom engenheiro, sucinto, pondero obediente: - "Sim, a senhora está certa!".
Ela finge que não sabe, como boa advogada.

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